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As eleições, os grupos da esquerda sectária e o Chavismo

[As eleições, os grupos da esquerda sectária e o Chavismo]

Mário Azeredo

Maduro ganhou as eleições. Vitória do povo chavista contra a burguesia pró-imperialista. Uma margem pequena de votos determinou a continuidade do chavismo no governo da Venezuela. Agora Maduro precisa aprofundar a nacionalização e socialização da economia, apoiado na mais ampla democracia direta, sob pena do chavismo perder o controle do país porque a burguesia e o imperialismo vão fazer de tudo para desestabilizar o governo. Essa é a atual situação da Venezuela, mas que vem se gestando desde quando Chávez foi sequestrado em 2002.

Muito se escreveu e se disse sobre Chávez. Lamentavelmente setores minoritários da esquerda fizeram eco à manipulação midiática burguesa e imperialista que apoiou e ajudou a organizar o golpe contra Chávez. Geralmente usando conceitos inadequados para caracterizar o novo, se peca pelo dogmatismo e se vai ao sectarismo.

Essa é a expressão de grupos que não entenderam o processo venezuelano, por ser novo e contraditório, utilizaram conceitos de fatos anteriores para definir o processo bolivariano e Chávez, como se a história fosse uma sequência de repetições. 
Esses companheiros não enxergam que Chávez e agora Maduro são inimigos do imperialismo. E como tal precisam ser derrotados, para que o ?livre mercado? e o saque da renda do petróleo possa ser dragado para o sistema financeiro internacional.  A democratização dos meios de comunicação e das decisões políticas, através de consultas, plebiscitos e eleições são insuportáveis para a burguesia. Porque esses mecanismos, com uma política acertada, impossibilitam a orgia de capitalistas e banqueiros. A participação massiva do povo, depois de 12 anos no governo, evidencia que o Chavismo não é inimigo da esquerda e muito menos igual a Capriles, como alguns setores da esquerda tentam dizer.

A esquerda sectária chamou o voto contrário à posição de Chávez no plebiscito sobre a Constituição em 2008. Ela não levou em conta os avanços na vida real dos venezuelanos que a constituição estava somente ratificando.
Repetiram o erro ao lançar Chirino como candidato presidencial, uma falsa terceira via que não passou de 5 mil votos, em meio a uma disputa encarniçada entre Chávez e Capriles em 2012. Com a morte de Chávez foi convocada nova eleição e esses companheiros continuaram errando ao defender o voto nulo. ?Nem Maduro, nem Capriles? foi a palavra de ordem desses companheiros. Esses setores da esquerda se reivindicam trotskistas. Porém, Trotsky foi um marxista, e como tal utilizou a dialética e a Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado, para fazer política. Por isso, Trostsky se posicionou em defesa das medidas adotadas pelo Presidente Cárdenas na década de 30 do século XX no México, contra o imperialismo. Porque entendia que o México era um país semi-colonial e que estava lutando pela independência nacional política e econômica. ?Nessas condições, a expropriação é o único meio sério de salvaguardar a independência e as condições elementares de democracia.? E completa ? A expropriação do petróleo não é nem comunista, nem socialista:é uma medida profundamente progressiva de autodefesa nacional?.
Em seguida aponta o lado que deve estar o proletariado internacional e os revolucionários nessa disputa: ?...toda a organização operária no mundo inteiro, tem a obrigação de atacar implacavelmente os bandidos imperialistas, sua diplomacia, sua imprensa e seus lacaios fascistas. A causa do México,... é a causa de toda a classe operária do mundo?.

Diferente dos companheiros que fazem política agarrados em dogmas, Trotsky sabia diferenciar os processos progressivos, dos processos reacionários. Para ser consequente um trotskysta deveria estar com Chávez no referendo, contra a política do imperialismo americano, contra o Rei da Espanha e contra a burguesia golpista da Venezuela. Assim como, deveria chamar o voto em Maduro, contra o lacaio Capriles.

O pior cego é aquele que não quer ver!

Ao chamar o voto nulo numa eleição tão disputada, fica evidente que os sectários não querem ver o quanto à burguesia venezuelana precisa derrotar o Chavismo. A burguesia e o imperialismo não podem viver com democracia de verdade. 
Na Venezuela a situação é dramática, porque o governo executa um plano contrário aos interesses imperialistas e destituiu a burguesia nativa do controle do Estado. Não é à toa que as disputas eleitorais são verdadeiras batalhas políticas, onde o povo mais consciente vai para a rua e vota no governo chavista, contra o candidato da burguesia parasitária e reacionária.

Domingo, dia 14 de abril, mais de 14.8 milhões de venezuelanos foram votar. Maduro ganhou as eleições, por uma margem pequena de votos, mas está legitimado. Capriles vai trabalhar para inviabilizar a democracia venezuelana, com possibilidade de organizar golpes e atos de sabotagem. A burguesia não vai reconhecer o resultado e pode partir para atos de terror. 
A Venezuela é um país cindido, polarizado por uma luta de classes expressa de um lado pelo governo Chavista, que defende a soberania nacional e distribuição de renda. Do outro lado da trincheira, estão os meios de comunicação privados, os burgueses vende pátria, apoiados pelo imperialismo.

É um absurdo que setores da esquerda mais sectária, com sua política dogmática estejam na prática na trincheira dos inimigos da classe trabalhadora venezuelana. Justamente nesse país, que há mais de uma década vem sendo vanguarda na luta contra o neoliberalismo e o imperialismo americano.
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