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Berna Menezes: Carta pública ao meu querido Olívio Dutra

[Berna Menezes: Carta pública ao meu querido Olívio Dutra]

O PSOL não é perfeito. Não se pretende ser o farol da humanidade. Sofremos todas as consequências de um partido que nasceu da maior derrota de nossa classe nos últimos anos: o fim do PT como alternativa de esquerda.

Estimado companheiro de façanhas passadas. Mesmo sendo do PSOL, te escrevo, pois sei que tentas dar uma batalha para que o PT tome um novo rumo, muito diferente do que vem fazendo nos últimos anos. Mas o que aconteceu ontem à noite na Câmara dos Deputados não foi apenas mais um deslize político ou moral de alguns dirigentes partidários. Foi mais uma vez virar as costas aos militantes que sob sol e chuva lutaram, primeiro para eleger Dilma – acreditando que o coração valente poderia dar um giro à esquerda – depois lutando contra o impeachment.

Hoje, muitos destes militantes, que é o que ainda há de sério e valioso no PT, estão envergonhados. Fui e sou solidária a todas as tuas críticas e até mesmo às tuas vacilações em relação aos erros dos dirigentes nacionais do PT. O problema é que os erros não são apenas mais desvios. Hoje, são a essência da política do PT. Apoiar Marcelo Castro do PMDB, à Presidência da Câmara, depois de tudo o que aconteceu nestes últimos meses, é jogar uma pá de cal no pouco de esperança desta militância. E não me falem em pragmatismo, pois nem isso foi. O que apareceu ao país foi uma bancada perdida, sem estratégia, sem política, sem entender ainda o que aconteceu.

Marcelo Castro, foi o candidato oficial do PMDB, com apoio dos golpistas, inclusive. Não existe nenhuma dúvida de que seguiria a linha do governo, como declarou em entrevista, onde fez questão de afirmar que não era anti-Cunha. Marcelo Castro sempre foi conservador, vide suas votações nos últimos anos. Portanto, não há nenhuma justificativa para votar nele! Continuo admirando tua trajetória de vida. Participei dos atos contra o golpe de Temer. Mas como oposição de esquerda ao governo Dilma, com quem tivemos sérios enfrentamentos, vejo cada dia mais a traição e descaso do petismo com sua base e os anseios do povo, sem volta. Insistentemente continuam errando e seguindo a lógica da velha política do toma lá da cá. A luta unitária contra o golpe foi porque sabíamos que o verdadeiro golpe era contra nós os trabalhadores deste país. E, está se confirmando agora, o governo Temer segue e aprofunda os ataques a tudo o que é público, aos direitos históricos de nossa classe, massacrando o povo pobre, não respeitando as conquistas aos direitos da pessoa.

Respeitamos a tua trajetória. Mas o PT deixou de cumprir um papel progressivo na sociedade brasileira. Pode sobreviver como um partido com viabilidade eleitoral, mas sem um programa ou direção de esquerda. Aliás, tem seguido a passos rápidos em se transformar um novo PMDB, um centrão sem clareza ideológica cercado de um amontoado de oportunistas querendo votos. As raras exceções foram consequentes e votaram contra esta linha apoiando Erundina.

O PSOL não é perfeito. Não se pretende ser o farol da humanidade. Sofremos todas as consequências de um partido que nasceu da maior derrota de nossa classe nos últimos anos: o fim do PT como alternativa de esquerda. Mas o PSOL, com todas as suas diferenças, tem uma força enorme e convicção de que em conjunto com os movimentos sociais, com uma juventude aguerrida, com as organizações verdadeiramente progressistas e anti-capitalistas vamos recompor as forças de nossa classe na luta por uma sociedade justa. Portanto, votar em Erundina era avançar na construção desta frente. Da Frente que construímos contra o golpe, da frente que estamos mobilizando contra os ataques aos direitos do povo e dos trabalhadores. Infelizmente, a resposta de vocês foi a de cavar a própria cova.

Nas ruas a jovem classe trabalhadora aposta na rebelião dos sonhos e sonhos não cabem nas velhas fórmulas. Portanto, caro Olívio, se apegue ao jovem que vive em você e o de cada um de nós que sonha com um mundo livre das amarras e os sofrimentos causados por este sistema perverso que iremos derrotar: o capitalismo. E como dizia nosso velho professor: Sonhos, acredite neles!

Bernadete Menezes, integrante da Direção Nacional do PSOL.

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