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Dois meses sem Amarildo

Desaparecimento do ajudante de pedreiro completou sessenta dias no último sábado (14). Familiares lutam por resposta para a pergunta: Onde está Amarildo?

Em manifestações de rua ou nas redes sociais, gritos de “onde está Amarildo?” ecoam há dois meses por todo o país.

O desaparecimento do ajudante de pedreiro, Amarildo de Souza, 47 anos, completou sessenta dias no último sábado (14).

Ele nunca mais foi visto após ser levado por policiais militares para uma averiguação na sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.

A esposa Beth e os filhos de Amarildo trocaram de endereço, mas permanecem na Rocinha. “Apesar de tudo que aconteceu, a gente continuou na comunidade. Teríamos medo de continuar se a repercussão não tivesse sido tão grande”, conta Michele Lacerda, sobrinha de Amarildo.

Segundo ela, além de ameaças verbais, policiais davam tiros para o alto em frente à casa de Beth. “Por estes motivos, eles estão morando na minha casa. Graças a Deus e ao apoio da sociedade, não recuamos”, acrescentou.

Nesses dois meses, a família e movimentos sociais promoveram mobilizações para evitar que o caso caia no esquecimento. “Tudo que a gente está fazendo é para ter respostas do Estado. O meu tio foi levado pelo Estado, por pessoas que deveriam, teoricamente, dar segurança para ele. Não vamos sossegar até uma resposta coerente”, disse Michele.

O advogado da família, João Tancredo, confirmou que polícias da Rocinha continuam ameaçando os familiares do pedreiro. “Alguns policiais já fi zeram ameaças veladas contra Beth, eles a insultaram e falaram: ‘Você vai se ver com a gente, deixa a imprensa sair daqui’. Sobrinhos também estão sendo ameaçados”, relatou.

Desaparecimento de provas compromete inquérito
No dia em que o ajudante de pedreiro foi levado para a sede da UPP, as câmeras da unidade não estavam funcionando e o GPS da viatura, usada na condução, estava desligado.

Segundo Mauricio Campos dos Santos, da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, é comum o desaparecimento de provas em crimes envolvendo policiais.

“A gente já acompanhou casos semelhantes e percebe que investigações de policiais são muito irregulares, as testemunhas são ameaçadas e as provas desaparecem”, destaca.

“Isso acontece porque não existe nenhuma vontade da polícia investigar a polícia, há muito boicote”, completa.

Ele aponta como vitórias da família o afastamento do comandante da UPP, major Edson Santos, e dos policiais envolvidos.

Um grupo de deputados do Rio entrou com uma representação no Ministério da Justiça pedindo que a Polícia Federal investigue o caso. Eles argumentam que é necessário um órgão neutro para investigar, já que a polícia do estado é suspeita de envolvimento.

Fonte: Vivian Viríssimo, Brasil de Fato
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